O AMOR NAS PERVERSÕES

O AMOR NAS PERVERSÕES

Rómulo Lander [Caracas]

O que é o amor? O que é a perversão? Qual é o conceito de perversão com o qual se trabalha hoje em dia na psicanálise estrutural? O assunto não é simples. O estudo psicanalítico da vida amorosa e a compreensão da vida sexual, vai além do descritivo fenomenológico. O fenomenológico e o psicanalítico, claro, dizem respeito a duas dimensões distintas. O primeiro se refere à clínica do ato (o visível) e o segundo à clínica do desejo (o invisível). De tudo isso se evidencia a necessidade de distinguir, do ponto de vista psicanalítico, a <vida amorosa> da <vida sexual>. Para tanto temos a nosso dispor os ensinamentos derivados de Sigmund Freud, Melanie Klein e especialmente as valiosas contribuições originais de Jacques Lacan.

Comecemos pela vida amorosa:

A vida amorosa é por si mesma extremamente complexa. A partir do vértice psicanalítico a palavra amor não diz respeito somente ao sentimento de carinho, nem ao vínculo de proteção ao outro, nem a presença de um sentimento positivo direcionado a um objeto. Podemos afirmar que, para a psicanálise, o amor é uma paixão (2). Significa algo que aparece quando a relação de objeto é imaginária (narcisista) e, como tal, o sujeito perde a alteridade com o outro. O sujeito acredita encontrar no outro o objeto perdido da infância primitiva.

Seguindo a Jacques Lacan considero que este objeto perdido é o [objeto-a]. Este encontro com o [objeto-a] deriva de um efeito de subjetividade. Quero dizer que este [objeto-a] que o sujeito acredita ver no corpo no corpo do outro, e que precipita a paixão de amor, não é nada mais que uma isca, que só é percebida pelo que ama. Ou seja: um resto, algo projetado pelo sujeito (o que ama) no outro (o amado). Lacan diz então: “Amar é dar o que não se tem”. Quer dizer: o ser amado está dando ao outro (o que ama) o este lhe projetou. Assim se desencadeia uma paixão de amor em qualquer estrutura neurótica [obsessiva ou histérica]. Entretanto, o tema e a pergunta que aqui temos são muito definidos.

Como é o amor nas perversões?

Pergunto: Acontece nas perversões a mesma dialética do desejo que se registra nas neuroses? Antes de responder a esta pergunta torna-se necessário esclarecer o conceito de perversão com o qual vamos lidar ao longo deste texto.

É imperativo distinguir o ‘ato sexual perverso’ do que é uma ‘estrutura perversa’. São duas coisas distintas. Afirmo isto porque é possível existirem atos sexuais perversos que aparecem em estruturas neuróticas ou psicóticas. Insisto: o que é muito frequente na clínica e que além disto é o que encontramos em nossos analisandos são os <atos sexuais perversos em neuróticos>. Contudo, há também o ato sexual perverso realizado por um sujeito que tem uma estrutura perversa verdadeira. Tal situação origina uma segunda pergunta: como distinguir um do outro se, em ambos os casos, o ato sexual é muito parecido? Por outro lado, ainda nos fica pendente a primeira pergunta: como é o amor nas estruturas perversas verdadeiras? Para responder à segunda pergunta, colocada mais acima, torna-se necessário haver respondido previamente a primeira delas.

Resposta à primeira pergunta:

A vida sexual dos neuróticos se rege pela lei do desejo e se expressa em um ato. O ato referido mostra a natureza do desejo deste sujeito neurótico carregado de sua correspondente energia de pulsão. (3)

O paradigma psicanalítico nos ensina que o desejo humano origina-se na falta(4) e organiza-se segundo as experiências da infância primitiva. Sabemos que a pulsão tem um nível biológico, é o nível que lhe propicia a energia. O mais importante é que existe ainda outro nível, o chamado nível histórico. Este nível histórico surge quando a pulsão fica marcada por pelas experiências significantes da infância primitiva. Assim, a pulsão se torna humana ao ser marcada pelo significante. Estas experiências da primitiva infância determinam a forma como o ser humano organiza a dialética de seu desejo. Nos neuróticos esse desejo busca o objeto perdido, a [pequena-a]. No perverso verdadeiro o desejo <está em fuga> e o sujeito se movimenta a <vontade de gozo>. Desta maneira, o perverso verdadeiro acredita possuir o saber do que o outro deseja. Guiado por este saber, o sujeito perverso monta seu roteiro e sua cena perversa. Esta cena com seu roteiro, deve ser cumprida nos seus mínimos detalhes, tanto pelo perverso, como por seu parceiro. Por isto, diz Lacan: ‘o roteiro está petrificado’. O sujeito perverso verdadeiro sabe o que quer e conhece seu roteiro, o qual deve ser seguido à risca. Dizia Lacan: ‘é um ser de puro prazer.’(5)

Sentido do ato perverso nas perversões:

O ato perverso tem o propósito de velar a castração. No sujeito de perversão esse ato perverso é sua única forma de alcançar o desfrute do sexo. A colocação em ato é codificada e rígida através de um roteiro; como se fosse um contrato entre partes, no qual cada sujeitar tem um papel a representar. O sujeito da perversão tem (simuladamente) que conseguir colocar-se como objeto do desejo do outro, surgindo assim como sujeito, no lugar que seria do outro. Ali, no lugar do outro, é onde vai aparecer seu gozo de órgão [masturbatório] que o conduz a um ser de puro prazer [não há dialética de desejo e, por conseguinte, não há espaço para o amor].

O perverso inverte os lugares do fantasma do neurótico. Surgem duas consequências lógicas deste mecanismo de inverter. Primeiro: A certeza delirante de haver conseguido ser o objeto do desejo do outro. Segundo: Seu prazer do órgão vai brotar no lugar do outro. Lacan, por esta situação, diz que o perverso verdadeiro <goza no outro>, enquanto que o neurótico <goza do gozo do outro>. Como podemos observar, o perverso realiza uma identificação projetiva maciça no outro. Sente ser o outro e neste lugar vai brotar seu gozo fálico. Para obter tudo isto, a encenação do ato sexual tem que ser rigidamente codificada. Por este motivo diz-se que a cena está petrificada. Trata-se de um libreto erótico no qual todos os detalhes de vestuário, encenação e postura estão previamente determinados pelo roteiro do fantasma do perverso. Não apenas está tudo ali, senão que tudo está definido de maneira muito precisa, onde o azar não pode comparecer.

Um exibicionista das ruas:

Tomemos o exemplo de um <perverso verdadeiro>, na figura de um exibicionista das ruas. Refiro-me ao homem que exibe seus genitais a uma menina anônima na rua. Alguns destes casos são neuróticos, alguns psicóticos e outros são perversos. Vejamos apenas o exemplo do perverso verdadeiro. Recordemos que este homem somente acessa à sua sexualidade por esta via exibicionista e masturbatória. Este homem necessita do <olho da menina> que o vê. No olhar da menina sobre seus genitais é onde ocorrerá a inversão dos lugares. Se a menina está de costas ou se ela não lhe olha, a montagem da cena perversa se torna impossível ou desmorona-se. Portanto <o olhar da menina> é fundamental. Este sujeito perverso está convencido que a menina o deseja e que, além disso, se excita ou se excitará com ele. Este é seu ponto de loucura: sua convicção delirante de ser objeto de desejo dela. No olhar é onde se identifica com a menina [mecanismo de identificação projetiva]. Ali inverte os lugares e o sujeito perverso passa a ser a menina. O suposto gozo fálico da menina é o seu gozo. Masturba-se e alcança uma plenitude orgástica. O sujeito acredita saber tudo sobre o prazer. Monta a cena segundo o seu desejo. Obriga o outro a representar a sua parte. Por isto Lacan diz que o perverso tem uma <vontade de gozo> [do outro]. Como se vê este é um protocolo erótico rígido, que é obrigado a ser montado como único acesso à sua vida sexual. O mesmo não sucede com o neurótico onde impera a incerteza e a dúvida de ser desejado. O sujeito perverso verdadeiro <não está marcado pela castração e não pode entrar na dialética do amor>. No neurótico, este sim marcado pela castração, o tormento reside no amor e na busca de felicidade que sempre são duvidosos [não há certeza].

Sentido do ato perverso nas neuroses:

O ato perverso do neurótico não é mais que a encenação de seu fantasma sexual. Este ato perverso no neurótico tem um sentido. Este sentido tem a ver com a <dialética do desejo e a angústia>. É muito diferente do sentido do ato perverso na estrutura perversa que tem a ver com <a dialética da vontade do gozo>. Sabemos por Lacan que o fantasma é de natureza sexual e que sempre é perverso [é perverso porque sugere velar a castração]. Lacan pegou o conceito de fantasma do próprio Freud quem, em 1895 em seu trabalho sobre Histeria, descobre que as fantasias sexuais podem estar reprimidas. Estas fantasias sexuais são construídas individualmente por cada pessoa. Tal construção inconsciente realizada na primitiva infância é o que Lacan vai chamar de o fantasma sexual. A construção desta fantasia sexual na primitiva infância é muito particular. É construída pelo sujeito para aliviar a angústia de castração. Vela [dissimula], portanto, a castração em uma forma muito especial para cada sujeito. Esse fantasma sexual é, por conseguinte, perverso, entretanto não tem natureza de sintoma. É uma construção inconsciente, precoce e imodificável. Constituirá o que Lacan chamava de ‘o tesouro da sexualidade’. Lacan, em seu Seminário sobre ‘Lógica do fantasma’ afirmou: ‘o fantasma é a flor no ramo espinhoso da culpa’.

Na construção do fantasma vão-se encontrar o sujeito e sua [pequena-a]. Realiza-se um acoplamento exclusivo para cada um. O [objeto-a] é um objeto topológico muito complexo. É um resto inconsciente ‘um algo que fica’, ‘o que cai’ da mais primitiva relação com a mãe. Por isto o algoritmo do fantasma no neurótico é [$◊a]. No sujeito da perversão verdadeira, o algoritmo inverte os lugares e aparece assim; [a◊$]. A [pequena-a] como objeto é um real. Dizia Lacan: <a única janela que o sujeito tem para o real>. Ou seja, um algo desconhecido para o sujeito. Um algo perdido [o objeto perdido] que se procura sem possibilidade de encontrar. Entretanto, na paixão de amor e na paixão de ódio, o sujeito, simulando, acredita havê-lo encontrado no corpo do outro para logo desencantar-se. Por este motivo, a paixão de amor e a de ódio estão destinadas a desvanecer-se.

Presença do fantasma sexual no neurótico:

O neurótico aceita sua incompletude e assume a castração. Está, portanto, inscrito na lei do desejo e marcado pela lei do pai. Submete-se à proibição do incesto e do parricídio. Como expliquei, seu fantasma sexual é uma tentativa de velar a castração. O neurótico pode desenvolver uma atividade sexual em pleno desconhecimento de seu fantasma. Uma atividade sexual movida pela pulsão sexual, sem incluir o fantasma reprimido. Pode atingir um gozo fálico em puro registro pulsional. O fantasma pode entrar na vida sexual do neurótico em duas circunstâncias:

Primeiro:

Frente a situações de angústia o neurótico pode conduzir o fantasma ao ato. Este ato perverso pode ser emoldurado dentro do conceito de acting out [agieren]. O ato trata de mostrar, neste acting out, uma verdade no campo do outro, com ausência de conhecimento de parte do sujeito. Ou seja, um ato sem sujeito. Atua-se sem conhecimento do que o que está sendo mostrado <separa o saber desta verdade que fala sem sujeito>, diz Lacan. O acting out monta o [objeto-a] na cena do outro. A verdade que se mostra é uma verdade de gozo. Em muitos casos esta verdade oferece um gozo ao outro. Tenhamos em vista que não é um <gozo no outro> como ocorre com o verdadeiro perverso, mas <um gozo com o gozo do outro> como se verifica no neurótico.

Segundo:

Certas pessoas, por efeito da análise ou por efeito de certos acontecimentos da vida ou ainda por sua dedicação às humanidades ou à arte, tem a possibilidade de resgatar muitos de seus elementos reprimidos. O amadurecimento ou a evolução na vida podem levá-los a modificar seus sistemas de ideais. O que em uma época teve que ser reprimido, já não o é mais exigido. Por esta via podem chegar a ter consciência de seu fantasma sexual. Quando isto ocorre, já não o podem ignorar. Este <atravessamento do fantasma> disponibiliza sua utilização na vida sexual cotidiana. Tanto pode ser usado em fantasia como passar ao ato. É uma questão caso a caso. A presença de tal fantasma sexual não é sintoma neurótico. Simplesmente é o fantasma. Uma construção do inconsciente tornado consciente. Sou dos que pensam que quando o fantasma é trazido à análise, explora-se o fantasma, porém não deve ser considerado como um sintoma neurótico sexual que deva ser resolvido ou eliminado, porque não o é. O ato perverso do neurótico tem um sentido: tem a ver como eu já disse com a dialética da angústia. No sujeito de perversão o ato tem a ver com a dialética da vontade de gozo. Desde o vértice do ato, ambos são similares. Desde o ponto de vista do sujeito os dois atos são completamente diferentes. O sujeito de perversão tem sua sexualidade completamente fechada e com a certeza delirante de seu roteiro. O sujeito de neurose a tem aberta e permanentemente em dúvida.

Agora podemos passar à segunda pergunta: Como é o amor nas perversões?

Esclareçamos que o sujeito verdadeiramente perverso se estrutura com o mecanismo básico da <desmentida> [verleugnung] da diferença anatômica dos sexos. Isso diz respeito ao mecanismo pelo qual a criança ignora a realidade perceptiva de que a mulher [mãe] não possui pênis. A formação da estrutura perversa se completa com o mecanismo da <cisão do ego> [Ichpaltung]. Isto faz com que parte de seu psiquismo creia na existência do pênis materno, outra parte não acredita. A angústia de castração fica resolvida com o mecanismo de [ser o falo] em vez de sofrer a dúvida de <tê-lo ou não tê-lo>. Ou seja, a angústia de castração fica resolvida pela posição de <ser> e não pela posição de <ter>. Optar por <ser o falo> significa para o sujeito que ele é o falo para o outro. Por esta via, o perverso se coverte em ser um <instrumento de gozo> para o outro.

Ser o falo do outro significa ser o objeto sexual do outro. Esclareçamos bem este ponto. Ser o objeto do desejo do outro, refere-se à estrutura neurótica, já que o neurótico <deseja ser desejado> pelo outro. Acontece que no perverso existe um giro adicional. Ainda que o neurótico deseje ser desejado, ele conserva o seu lugar [à esquerda do algoritmo do Fantasma]. Sendo sujeito, deseja ser desejado. Sua dialética do desejo com o outro, coloca o outro, como objeto desejado, igualmente como sujeito desejante. Ambos se reconhecem como castrados, incompletos e a partir desta condição, desejam a ilusória completude que lhe oferece o outro. Essa é a dialética neurótica. O matema do fantasma que Lacan criou para o neurótico coloca o sujeito do lado esquerdo e o objeto, no lugar do outro, isto é, à direita [$◊a].

O giro adicional ao qual converte esta dialética é perverso. É o seguinte: O sujeito da perversão, visto que seu ponto de fixação o petrifica em [ser o falo], não se reconhece como castrado nem incompleto. É o outro quem está incompleto, isto é, castrado e desde esta situação, pode desejar o sujeito. Como consequência, o perverso se identifica, de maneira louca, com o outro. Ocupa o lugar do outro. Fazendo assim, inverte a lógica dos lugares e surge como sujeito no lugar do outro; no lado direito do matema: [a◊$]. Afirma então Lacan que [nesta estrutura perversa o outro é um simples suporte do sujeito]. O outro fica reduzido um simples sustentáculo, a uma armação humana, que o sustenta como sujeito [não é um semelhante]. Prosseguindo, este giro nos explica a proposta teórica que o <gozo fálico> ou <prazer de órgão> do perverso verdadeiro brota no lugar do outro. Somos conduzidos então ao próximo passo onde, da <dialética do desejo> passamos à <vontade do gozo>. Quando o sujeito perverso se estrutura como <ser o falo> para o outro, deixa de sofrer do desejo. A resposta à segunda pergunta é esta: <o sujeito da perversão está estruturalmente impossibilitado para amar [com um amor de paixão]. Como já afirmei: da dialética do desejo passou à vontade do gozo. Ao perverso verdadeiro resta, entretanto, e é o que usa uma e outra vez, [o alegado do amor].

A vontade de gozo:

O perverso fica impossibilitado de estar inscrito na lei do desejo devido a seu ponto de petrificação de <ser o falo>. Isto, ele substitui com a <vontade do gozo>. Por isto a antinomia descrita por Lacan entre o desejo e o gozo na estrutura perversa, ‘o desejo sempre em fuga no perverso, se faz vontade de gozo [no outro]’ (6). Quando o exibicionista perverso sai em busca de sua parceira e a encontra na figura de uma menina anônima, o faz convencido que esta menina o deseja. Requer que esta menina o olhe. ‘Este olho que olha é fundamental’. Sem esta olhada, toda a montagem perversa se desmorona. É na olhada onde vai ocorrer a identificação e a inversão dos lugares. ‘A olhada do outro sustenta a montagem perversa voyerista/exibicionista’. Da mesma maneira sucede com o áudio [a escuta] na manutenção da montagem perversa no sadomasoquismo. Tudo isso ocorre pela decidida <vontade de gozo> do perverso. O perverso está convencido que a menina o deseja [ponto de loucura] e acredita ver o relampejar do desejo nesta olhada. Sua vontade de gozo o leva a inverter os lugares e a estar convencido do prazer sexual que estaria dando à menina. Ao se por no lugar da menina, o perverso obterá o orgasmo através da masturbação. Daí Lacan dizer que <o gozo fálico brota no lugar do outro> e <a vontade de gozo é no outro>.

A tirania do roteiro:

Esta montagem perversa é rígida e o sujeito da perversão se acha fechado nela. Como consequência disto a <a vontade de gozo> do sujeito perverso não é de livre arbítrio. Para ter acesso à sua vida sexual é necessário que o perverso verdadeiro obedeça ao roteiro por ele mesmo construído. É necessário que se submeta estritamente ao seu próprio cenário. Isto é assim, pois sabemos que, para obter seu gozo fálico, o perverso tem que converter-se no objeto sexual do outro. <O perverso torna-se objeto>, sentencia Lacan. Desta forma o libreto erótico está petrificado. O produto final desta vontade decidida de gozo é um ser de puro prazer. Esgota-se momentaneamente sua sexualidade e o perverso resgata sua tranquilidade. Assim o exibicionista foge da cena. O masoquista, depois de conseguir colocar-se [por identificação] no lugar do sádico, pedirá mais dor. Poderá acessar o orgasmo no meio de toda esta dor e humilhação depois de conseguir colocar-se no lugar do sádico [inverte os lugares]. Se o <olhada> joga o papel principal no exibicionista/voyerista, a <voz> irá jogá-la na cena sado/masoquista. Desta maneira encontramos a voz que pede por mais e a voz do sádico que o humilha e o deprecia. Esgota-se aqui momentaneamente sua sexualidade. O masoquista resgata sua tranquilidade e cai em imensa dor física. Desta forma a cena perversa terminou e o sujeito quer sair rapidamente dela.

NOTAS:

  • Expresso gratidão a a distinguido psicoanalista Romualdo Romanowski (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Brasil) por sua tradução deste texto para o português.
  • Pode ser útil precisar o conceito de paixão: A paixão é algo que se produz quando o psiquismo está funcionando sob o predomínio do eixo imaginário (narcisista). Refiro-me aqui aos eixos descritos por Lacan no Esquema Lambda. Este eixo imaginário nos conduz a mecanismos narcisistas primitivos. Por exemplo, a relação de objeto neste eixo é fusional com ausência da capacidade de alteridade. O tipo de angústia próprio deste eixo imaginário é aniquilatório e aparece e aparece quando foi perdido o objeto de amor fusional. Neste eixo a relação com o objeto de amor é com um falo imaginário. A característica deste falo imaginário é ‘ser o todo para o outro’. Assim, a lógica da relação de objeto, a lógica da angústia e a lógica do falo, vão ser fundamentais para nos localizarmos nos dois eixos do Esquema Lambda.

Sugiro ler o capítulo 3 do livro ‘Experiencia subjetiva y lógica del outro’ de Rómulo Lander, 3ª edición 2014 [580 páginas].

  • Sabemos que a pulsão é buscadora de objetos. A pulsão encontrará sua finalidade neste objeto buscado, que não é outra coisa que a descarga. Pelo que sabemos a mente masculina e a mente feminina que podem habitar indistintamente o corpo de um homem ou o de uma mulher, terão diferenças significativas. Estas diferenças incluem o tipo de organização sexual inconsciente, que será muito variada, na dependência das vicissitudes da história infantil de cada sujeito.
  • É necessário distinguir <a falta em ser> tomada por Lacan da teoria de Hegel, de <a falta> por perda do [objeto-a]. No caso da origem do desejo trata-se da falta pela perda.
  • Estes conceitos estão explicados por Jacques Lacan em seu texto ‘Kant com Sade’ que aparece em seus ‘Escritos 2’. Um resumo pode ser lido no capítulo 46 do livro ‘Experiencia subjetiva y lógica del otro’ de Rómulo Lander, 3ª edición 2014 [580 páginas].
  • Ver o texto e o Grafo de Lacan que aparece em ‘Kant com Sade’ nos Escritos-2. O Grafo é muito eloquente.

Bibliografía:

FREUD, S. [1903]: Los tres ensayos de una teoría sexual

Obras completas. Editorial Amorrortu, Buenos Aires, 1967

KLEIN, M. [1952]: Algunas conclusiones teóricas sobre la vida emocional del lactante

Obras Completas. Tomo 3, Editorial Paidos. Buenos Aires, 1977

LACAN, J. [1958]: El deseo y su significación

Tomo 6. Seminario inédito. Copia mimeografiada en español.

LACAN, J. [1962]: Kant con Sade

Escritos 2. Editorial Siglo 21, Mexico, 1985

LACAN, J. [1967]: La lógica del Fantasma

Escritos 2. Editorial Siglo 21, Mexico, 1987

LACAN, J. [1968]: La significación del Falo

Escritos 2. Editorial Siglo 21, Mexico, 1985

LANDER, R. [2014]: Experiencia subjetiva y lógica del otro

Editorial psicoanalítica 3ª Edición, Caracas, 2014